Minuesas

Publicado: abril 7, 2020 em Corriqueiro

Hoje vi com clareza, aquele momento em que abrimos nossos olhos para as minuesas da vida e que definitivamente vem com a idade.
Sim! A idade! A maturidade!
Eu já fui jovem um dia! Cheia de gás e virtudes que hoje são cada vez mais raras.
Não existem mais pessoas com a mesma impetuosidade que tive. Pelo menos não as conheço mais.
Existiu uma época em que você querer algo ou estar perto de alguém era possível e nada importava! Nem a hora, o momento, a distancia ou a circunstancia.
Quantas vezes viajei, de súbito para apenas tomar um café da manha com uma pessoa muito querida!
Quantas despencadas, surgimentos repentinos não fiz para apenas conversar com um ser humano que me encantava!
Hoje recordo tudo isso! Tudo que fiz e como fui um dia.
Eu, que já saí do subúrbio na madrugada para ir a zona sul da cidade apenas para confortar uma amiga que não conseguia dormir.
Eu, que já fui em baixo de chuva atrás de uma amizade que não queria perder.
Eu, que sou capaz de carregar no colo o namorado bêbado de uma amiga só para vê-la feliz.
Eu que largo o que estou fazendo ou dou um jeitinho de resolver um problema seu só porque você não tem tempo.
Eu que me arrisco na madrugada para voltar para minha casa distante apenas porque quis lhe levar flores.
Eu, que mesmo apaixonada apresento meu melhor amigo porque sei me retirar e deixá-los viver algo lindo!
Eu, que presto atenção em você porque quero aprender o que gosta e poder lhe agradar.
Eu!!! Que a vi escrevendo um poema e corri na livraria para lhe dar de presente, um caderno de escritor, sem pauta, com capa de couro, para incentivar seus futuros textos.
Eu, que sempre ponho fé em você.
Que acredito nos seus talentos.
Que tenho carinho e quase como um zelo de mãe, me preocupo se esta bem, que acompanho sua vida mesmo que distante.
Porque sou responsável por você que te cativei.
Porque no momento em que “assinamos” nosso contrato de amizade, um pedaço do meu coração foi doado.
E sensitiva que sou, se algo de errado entre nós acontece, esse pedaço dói.
Mas não tenho mais o ímpeto de sair na madrugada e consertar tudo!
Porque com o passar do tempo poucos fizeram o mesmo. Meus pedaços doem a cada passar de tempo. E eu sempre espero que o momento certo aconteça.
Sei que não posso esperar que sejam como gostaria que fossem, mas tanta paulada, tanto descaso, tanta falta fazem a alma enrijecer, mas eu sempre me choco.
É a questão: o coração se apega, a realidade do ser humano bate a porta ou na sua cara, você não quer acreditar, mas os próximos passos confirmam e o imaculado vira decepção, tristeza por colocar tanta fé em alguém que agora já nem sei quem é.
Eu sou responsável pelo que cativei, mas perdi de vista, perdi um pouco do sentimento, perdi a fé.
Provavelmente vamos nos encontrar sem muitos apegos e como sou uma senhora sem os ímpetos da juventude, dessa vez terei que ser cativada.
Cansei dos jovens com trinta mil amigos. Quero apenas os meus cinco, seis, mas que dizem me amar, me provam a cada dia esse amor, que desmarcam o que for para estar comigo. Esses sim, não preciso implorar por atenção, presença, eles se fazem presentes, no meu cotidiano, mesmo que sem se ver, mas sabemos um do outro, somos capazes de criar laços.
Um amor para toda vida!
E para esses amigos fies ainda consigo fazer mimos inocentes da infância. Levar uma pedrinha de um lugar distante só para se sentir lembrado.
Acompanhar ao ponto do ônibus só para lhe ver partir sorrindo.
Levar flores para um jantar, pastilhas para dores de garganta, uma rosa para professora no dia dos mestres.
São pequenos gestos que no meu mundo são preciosos.
Nos tempos em que tudo requer uma troca, em que todos se aproveitam de todos. O próprio umbigo é o mais importante que tudo, pequenos gestos, para mim, são declarações de amor.
Ainda não exorcizei o sentimento ruim que me assola nesse momento porque o que enxergo agora não é o que meu coração quer aceitar. Mas as provas foram dadas e uma página precisa ser virada, mesmo que a ligação seja forte, sensitivamente forte, mas já sou uma pessoa madura e o que me resta agora é apenas sentir uma enorme e triste pena.
E aos poucos amigos, considerem parte desse texto como um mimo meu, pois alguns se identificarão e saberão que os inacreditáveis que faço é o meu jeito de cuidar, cativar cada vez mais e de amar cada um de vocês.
Porque amizade é muito mais que sair para beber, para farrear. A vida está aí, rígida, dura, perversa lei da sobrevivência. Ter um bom amigo é quase fazer votos. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza.
Na era das redes sociais em que todos postam felicidade fake, o mundo se esquece que dores também fazem parte da vida, pode ser um saco, uma vibe ruim, mas um bom amigo está na dor e no amor. Na ilusão de uma festa alucinógena e na realidade do dia a dia.
Hoje vi com clareza, aquele momento em que abrimos nossos olhos para as minuesas da vida.

@amandapaivasan

Ódio a alma

Publicado: junho 12, 2013 em Melancolia

É a minha alma…

É sim!

É ela que me atrapalha a vida.

É ela que não se aquieta, não se conforma com nada que lhe é oferecido.

É essa alma ingrata, aventureira que fere a todos que eu toco.

É seu desejo de tudo que não me deixa focar em nada. Seu apego ao mundo que me prende aos deleites, a vagabundagem eterna…

É!

É a malvada da alma!

Que chora… aperta o peito.. E clama por liberdade!

É ela quem me sufoca!

Ama o que não é para amar e se entrega!

Me diz? Para que se entregar?

É sim! A minha alma que me leva para caminhos sem volta, me oferece vícios dolorosos e  traz para dentro todas essas vontades…

É a bosta da alma!

Inquieta…

Ela e seus sentimentos de alma…

Se fosse uma pedra!! Eu retirava!

Que destino o meu… Justo o que me atrapalha é a minha alma…